sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Que vai fazer Pedro Santana Lopes no congresso extraordinário do PSD?

Que vai fazer Pedro Santana Lopes no congresso extraordinário do PSD?

Esta é a pergunta de muitos sociais-democratas, sabendo que foi o próprio ex-líder laranja que forçou a marcação da reunião magna dos próximos dias 13 e 14 de Março. O i sabe que três cenários estão a ser ponderados por Santana Lopes. Apoiar José Pedro Aguiar-Branco ou Paulo Rangel, mas nunca Pedro Passos Coelho, é um deles. Segundo cenário: uma candidatura de última hora, o que não é para já uma vontade expressa pelo próprio. Por último, Santana Lopes pode resolver concretizar uma ameaça antiga saindo do PSD e criando um novo partido.

"O congresso extraordinário foi confirmado. Tanto trabalho que deu, a tanta gente, tentar impedi-lo, tanta invenção, tanta oposição" - estas linhas foram escritas por Santana Lopes no seu blogue (pedrosantanalopes.blogspot.com) no passado dia 13 de Fevereiro. "Agora começa outra fase. Com a mesma serenidade", acrescentou. É esta nova fase que faz tremer as três principais candidaturas social-democratas.

A candidatura de Pedro Passos Coelho sabe que não irá contar com o apoio do ex-líder do PSD e que Santana hesita entre José Pedro Aguiar-Branco e Paulo Rangel, com larga vantagem para o actual líder parlamentar. Santana tem elogiado em público aquele que foi o seu ministro da Justiça durante o governo que chefiou depois da saída de Durão Barroso para a Comissão Europeia.

Na sexta-feira passada, por exemplo, de novo no blogue, Santana mostrou-se satisfeito por "já terem surgido candidaturas antes do Congresso" e concordou com o líder da bancada parlamentar laranja: "Como diz Aguiar-Branco, poderá ficar mais claro aquele que poderá ser, no futuro, o modelo estatutário que ligue Congresso e Directas."


Por outro lado, Santana Lopes confessou recentemente a um apoiante próximo que ainda não decidiu se avança com nova candidatura à liderança do PSD. "É um hipótese que não está excluída, mas para a qual não está inclinado", diz-nos fonte próxima do ex-líder social-democrata. Esta possibilidade choca com o facto de alguns santanistas, como é caso de Pedro Pinto, já estarem a apoiar um ou outro candidato - no caso, Passos Coelho. Choca também com a necessidade de percorrer o país e angariar apoios das distritais em apenas duas semanas, face ao trabalho de "caciquismo" que já foi feito pelas três candidaturas no terreno.

O cenário de sair do partido para fundar um novo já foi falado em conversas com apoiantes. É aliás uma ameaça antiga de Santana Lopes, reiterada a 18 de Dezembro de 2009 na sua coluna do semanário "Sol". Na altura, quando começou a exigir um congresso extraordinário antes das directas, escreveu: "Se eu sair do PSD, não volto." O ex-primeiro ministro considerou ainda que "o PPD/PSD está sem causas" e "está a ir atrás daqueles que há anos tudo fazem para destabilizar e minar os alicerces da sociedade e do Estado".

Na altura, contra a opinião de muitos, incluindo a vontade de Passos Coelho, um dos principais a opor-se a esta solução, disse que iria reunir 2500 assinaturas e convocar um congresso, deixando cenários em aberto: "Ponderei várias possibilidades, há muito tempo, mas na vida de cada um de nós tudo devemos fazer para as coisas terem sentido." A ameaça continua em cima da mesa. Fazer apostas torna-se arriscado perante a imprevisibilidade do antigo primeiro- -ministro. O i perguntou ao próprio qual dos cenários é mais provável, mas Santana não quis responder.

publicado no jornal I de 26-02-2010.

domingo, fevereiro 21, 2010

Presidenciais: Fernando Nobre defende que Face Oculta "merece ser esclarecido até à exaustão"

Presidenciais: Fernando Nobre defende que Face Oculta "merece ser esclarecido até à exaustão"


21 de Fevereiro de 2010, 17:57


Lisboa, 21 fev (Lusa)- Fernando Nobre defendeu hoje que o caso Face Oculta "merece ser esclarecido até à exaustão", adiantando que se estivesse no lugar de Cavaco teria chamado a Belém o Procurador-Geral da República e o presidente do Supremo Tribunal de Justiça.

"Sou um cidadão que tem lido o que sai nos jornais, o que nem é sempre a verdade e podem ser meias verdades, agora o que eu acho é que o senhor primeiro ministro, que é um ser muito frontal, tem de dizer ao país tudo aquilo que pensa", afirmou, em entrevista à agência Lusa, o candidato à Presidência da República.

Fernando Nobre adiantou que caso fosse chefe de Estado "teria chamado o senhor PGR, o senhor presidente do STJ" e "ter-lhes-ia falado bem olhos nos olhos", admitindo contudo que, "provavelmente" o presidente Cavaco Silva - de quem disse ter "uma imagem de seriedade e dignidade" -, "tê-lo-á feito".



O que devo ser quando for grande?

CLÁUDIA LUÍS, CLAUDIALUIS@JN.PT

No futuro, serão necessários mais técnicos especializados e legisladores do que agricultores e artesãos. E a maioria dos novos empregos deverá ser criada em áreas que exijam um conhecimento altamente qualificado.



Quanto às profissões que requerem menores habilitações, a tendência é de queda progressiva. Estima-se que, na próxima década, um total de cerca de 80 milhões de oportunidades de trabalho serão geradas nos países da União Europeia: 73 milhões serão de vagas deixadas por reformados e por mudanças profissionais. E sete milhões dirão respeito a novos empregos, diz o Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional. Mas estará o mercado preparado para absorver todos os activos muito qualificados? E como devem as universidades formar para as profissões do futuro?



Entre os licenciados portugueses, a taxa de desemprego tem vindo a diminuir. No último trimestre do ano passado, a percentagem de desempregados com habilitações superiores era de 9,6%, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Cenário que antecipa a tendência europeia e vai ao encontro das previsões do estudo do Centro Europeu, que indica maior empregabilidade entre os mais qualificados.



Contudo, e ainda que "o excesso de qualificação formal não seja um problema per se", a aplicação dessas competências é um "problema potencial", alerta o Centro Europeu, uma vez que os postos de trabalho criados pelo mercado podem ser insuficientes ou desadequados aos cursos das universidades. Além do receio do subaproveitamento de conhecimento, teme-se a desvalorização de saberes tradicionais das profissões manuais para as quais não é essencial a passagem pelas universidades.





Para ser alguém na vida



Chega a hora da conversa sobre "ser alguém na vida" e todos ouvirão os mesmos contraditórios conselhos acerca do valor absoluto e, ao mesmo tempo, incerto de um diploma académico. A conversa termina, invariavelmente, com um apelo a um "curso com saídas profissionais". Implacáveis, os números dizem que há 55 mil desempregados licenciados em Portugal, segundo dados do INE do último trimestre de 2009. Mesmo assim, o futuro será sempre dos mais qualificados. Quem avisa é um organismo da Comissão Europeia.



As Ciências Empresariais asseguram a maior percentagem dessa tipologia de desemprego (19,8%), segundo estudos de Junho passado. Já as Ciências Sociais seguem, de perto, a tendência, representando 12,8% dos desempregados com habilitações superiores, informa o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.



Hoje, há 3786 cursos no Ensino Público, Privado e Politécnico. Mas, segundo a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior, há 330 pedidos de acreditação de novos cursos. Ainda assim, o número desceu consideravelmente em relação aos 900 pedidos de acreditação registados no ano passado.



Cumprindo critérios que o Centro Europeu aponta como determinantes para o futuro das profissões, a acreditação de cursos passa, também, pela empregabilidade, mobilidade internacional, corpo docente, investigação, instalações e número de alunos.



Segundo o sociólogo José Manuel Leite Viegas, "a área da Saúde, que pressupõe sectores muito qualificados - como é o caso de especialidades muito complexas ou tecnológicas -, será alvo de procura crescente". De facto, as áreas de estudo ligadas à Saúde são das que menos desemprego qualificado geraram: em Junho de 2009, era de 5,6%, segundo o Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais do Ministério.



Aquele mesmo organismo conclui que os serviços de transporte (0,1%), de segurança (0,2%) e as áreas de Matemática e Estatística (0,5%) tinham a menor percentagem de pessoas com habilitações superiores inscritos em centros de emprego.



Que esperar do Ensino Superior?



"No contexto da globalização e flexibilidade das economias e sociedades, as tendências de transformação do mercado de trabalho não podem deixar de afectar as políticas do Ensino Superior", começa por considerar a socióloga Ana Paula Marques. Nesse sentido, a investigadora da Universidade do Minho refere a "expansão e massificação" do Ensino Superior como exemplos de "mudanças persistentes" ocorridas nos últimos anos.



A transmissão de conhecimentos e competências que possam ser aplicados ao mercado de trabalho é uma expectativa legítima a atribuir ao Ensino Superior, lembrou a socióloga. A "promoção de estágios ao longo da licenciatura", assim como "avaliações regulares da licenciatura ao mercado de trabalho" são exemplos de iniciativas apontadas nesse âmbito.



Da mesma forma, o cultivo da "cooperação com as empresas da região", a aposta na "formação extracurricular" e no "empreendedorismo académico" são exemplos de medidas a adoptar. Contudo, Ana Paula Marques ressalva que não é competência exclusiva das universidades adaptar a formação ao mercado de trabalho, defendendo parcerias de universidades e agentes económicos em diversas áreas. "As empresas terão também de se co-responsabilizar pela formação e inovação de conhecimentos dos seus activos".



No mesmo sentido, o sociólogo José Manuel Leite Viegas afirma que "não são só as universidades que têm que adaptar-se: elas também criam espaço para o desenvolvimento de áreas específicas, sectores profissionais articulados com o mundo empresarial". O docente do ISCTE lembra que "há microempresas criadas a partir de ideias nascidas na investigação académica".



A colaboração entre os departamentos de investigação universitários e as empresas "é uma realidade que já se verifica, havendo, naturalmente, empresas que não estão interessadas em investir nessa área", comenta. De resto, um dos motivos que poderá contribuir para explicar "alguma quebra de financiamento de cursos por parte das empresas é a crise financeira".



Segundo o docente, "a formação é, sobretudo, procurada a nível individual", o que denota uma aposta pessoal na qualificação e no conhecimento. Mas a orientação das universidades para o mundo das profissões é algo que também "se constata", até através de indicadores como "o regime pós-laboral de muitas pós-graduações e mestrados que não são de continuidade".



Conhecimento sem afectos vale menos



Nas últimas décadas, "a correspondência do diploma ao emprego é cada vez mais a excepção". O conhecimento apreendido nas universidades pode não enquadrar-se no mercado de trabalho. Os estudantes deparam-se, muitas vezes, com profissões que não tiram proveito da sua formação ou descobrem que as licenciaturas não os prepararam devidamente para a vida profissional.



Mas passará a empregabilidade, exclusivamente, pelo investimento no conhecimento? Para a socióloga da Universidade do Minho não, já que "o sucesso profissional não depende apenas do conhecimento". "Atitudes, valores e outras dimensões não cognitivas", como é o caso das características "afectivas e emocionais", também contribuem para arranjar e manter o emprego.



Então, pode a ditadura do mercado profissional vedar o acesso à formação de áreas do saber como a Filosofia?



Na perspectiva de José Manuel Leite Viegas, não devem tratar-se de áreas incompatíveis, até porque "os países com uma dinâmica de mercado forte e muito prática valorizam áreas como a Filosofia. Trata-se da primeira área de formação, o ponto de partida para a prática empresarial, por exemplo".



Além disso, "a Filosofia carece de um complemento e o próprio indivíduo necessita de racionalidade e conhecimento do Mundo em qualquer área do saber".



Profissões tradicionais, que futuro?



No universo dos saberes tradicionais e actividades manuais - de que são exemplo artesãos, agricultores e padeiros -, a tendência dos próximos dez anos será, estima o Centro Europeu, uma quebra acentuada no mercado de trabalho. Trata-se de uma previsão que "quantitativamente pode acontecer", diz o sociólogo do ISCTE, mas, "ao nível qualitativo, a tendência será mais no sentido da evolução dessas profissões. Não deixaremos de comer pão" - exemplifica.



"O processo de o fazer é que pode evoluir para uma mão-de-obra mais qualificada ou visando uma produção de carácter massivo", acrescenta. Nesse sentido, importa defender as "qualificações, sim, mas com aplicação às profissões tradicionais", conclui.



sábado, fevereiro 20, 2010

Avaliação em Cidadania Avançada ... por MÁRIO CRESPO

Diferenças

Assistir ao duríssimo questionamento da comissão de inquérito senatorial nos Estados Unidos para a nomeação da juíza Sónia Sottomayor para o Supremo Tribunal é ver um magnífico exercício de cidadania avançada.
Não temos em Portugal nada que se lhe compare.
Se os nossos parlamentares tivessem a independência dos congressistas americanos, Cavaco Silva nunca teria sido presidente, Sócrates primeiro-ministro, Dias Loureiro Conselheiro de Estado, Lopes da Mota representante de Portugal ou Alberto Costa ministro da Justiça.
O impiedoso exame de comportamentos, curricula e carácter teria posto um fim às respectivas carreiras públicas antes delas poderem causar danos.

Se a Assembleia da República tivesse a força política do Senado, os negócios do cidadão Aníbal Cavaco Silva e família, com as acções do grupo do BPN, por legais que fossem, levantariam questões éticas que impediriam o exercício de um cargo público.
Se o Parlamento em Portugal tivesse a vitalidade democrática da Câmara dos Representantes, o acidentado percurso universitário de José Sócrates teria feito abortar a carreira política. Não por insuficiência de qualificação académica, que essa é irrelevante, mas pelo facilitismo de actuação, esse sim, definidor de carácter.

Do mesmo modo, uma Comissão de Negócios Estrangeiros no Senado nunca aprovaria Lopes da Mota para um cargo em que representasse todo o país num órgão estrangeiro, por causa das reservas que se levantaram com o seu comportamento em Felgueiras, que denotou a falta de entendimento do procurador do que é político e do que é justiça.
Também por isto, numa audição da Comissão Judicial do Senado, Alberto Costa, com os seus antecedentes em Macau no caso Emaudio, nunca teria conseguido ser ministro da Justiça, por pura e simplesmente não inspirar confiança ao Estado.

Assim, se houvesse um Congresso como nos Estados Unidos, com o seu papel fiscalizador da vida pública, por muito forte que fosse a cumplicidade dos afectos entre Dias Loureiro e Cavaco Silva, o executivo da Sociedade Lusa de Negócios nunca teria sido conselheiro presidencial, porque o presidente teria tido medo das cargas que uma tal nomeação inevitavelmente acarretaria num sistema político mais transparente.
Mas nem Cavaco teve medo, nem Sócrates se inibiu de ir buscar diplomas a uma universidade que, se não tivesse sido fechada, provavelmente já lhe teria dado um doutoramento, nem Dias Loureiro contou tudo o que sabia aos parlamentares, nem Lopes da Mota achou mal tentar forçar o sistema judicial a proteger o camarada primeiro-ministro, nem Alberto Costa se sentiu impedido de ser o administrador da justiça nacional em nome do Estado lá porque tinha sido considerado culpado de pressionar um juiz em Macau num caso de promiscuidade política e financeira.
Nenhum destes actores do nosso quotidiano tinha passado nas audições para o casting de papéis relevantes na vida pública nos Estados Unidos. Aqui nem se franziram sobrolhos nem houve interrogações. Não houve ninguém para fazer perguntas a tempo e, pior ainda, não houve sequer medo ou pudor que elas pudessem ser feitas.
É que essa cidadania avançada que regula a democracia americana ainda não chegou cá.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Candidato à Presidencia da Republica

Entrevista a Fernando Nobre, candidato à Presidência, Presidente da Ami e autor de "Humanidade"
ENTREVISTA FERNANDO NOBRE Presidente da AMI
"Ser líder é ter deveres. Não é ter direitos"

Por Mafalda de Avelar, a 16 de Janeiro 2010, para o Diário Económico

O homem que não conhece apenas as realidades que descreve, sente-as
NOVO LIVRO RESUME A VISÃO DE
FERNANDO NOBRE SOBRE O MUNDO.

Temos que despertar para a cidadania global solidária é a grande mensagem de " Humanidade ", no novo livro de Fernando Nobre , Presidente da Assistência Médica Internacional (AMI). Participante activo da nossa sociedade, este médico, doutor em Medicina pela Universidade Livre de Bruxelas, fala das inquietudes da nossa sociedade e das mudanças necessárias para termos um mundo melhor. Utópico? Muito pouco. Ser prático está lhe no sangue, que se quer a fluir rápido quando catástrofes como a que o mundo viveu esta semana no Haiti acontecem. A AMI, diz Fernando Nobre , vai enviar 10 pessoas para ajudar. "Dinheiro para comprar cloro e medicamentos, nos países vizinhos, é o que precisamos mais. Alimentos e roupas têm um custo de transporte grande."


Este livro agora. Porquê?

Por um lado: há 30 anos que ando no terreno, a AMI faz 25 anos, tenho escrito outros livros, a falar das minhas viagens, dos meus gritos e das minhas imagens; por outro, no meu blog algumas pessoas interpelam-me para me perguntar "porque é que não nos diz um pouco mais claramente o que pensa?". Por tudo isso escrevi este livro, onde tentei estruturar algo que me permitisse responder às várias questões que as pessoas me colocam e também estruturar o meu pensamento sobre aquilo que considero serem os grandes desafios, as grandes ameaças e as esperanças para a humanidade . E já agora também para falar dos grandes desafios nacionais porque, como todo o português que se preze, também ando preocupado com o nosso país - assim como ando com a humanidade . Foi uma maneira de fazer o meu testamento filosófico e político (embora não partidário) antes de tempo. E assim surgiu este livro escrito durante as férias.

Qual a maior inquietude que sente na sociedade?
Eu acho que são as questões sociais, embora comecem a disputar as questões ambientais e éticas - dai falar (no livro) da questão da espiritualidade. (…) A espiritualidade é uma das interpelações que mais frequentemente me fazem e que mais tem transparecido nos contactos que faço na rua, nos cafés, no comboio,
Em termos de aspectos sociais - e com o desemprego a dois dígitos - como é que define esta inquietude social?
É extremamente legítima até porque nós sabemos todos que poderíamos estar além dos dois dígitos se não tivéssemos a viver uma nova onde migratória. (…) Nós sabemos que a questão financeira, económica e social está por resolver. Há um ano, quando estávamos no auge da crise, falava se da necessidade de maior regulamentação, fiscalização (…), enfim moderação nos salários, nos bónus, nos produtos financeiros. Todo esse discurso desapareceu como se não tivesse acontecido nada. Eu acho que o mundo após esta crise é um mundo que exige mudança e há que ter a coragem no mundo político global - e nacional também - para exigir aos intervenientes económicos e financeiros mudanças de atitude e de comportamento. Temos que assumir que isso não se volte a repetir. Como isto está a ser conduzido nada está garantido. Neste livro tento apelar ao extremo bom senso, ao mudar de algumas atitudes e a que os líderes entendem, de uma vez por todas, que ser líder é ter deveres. Não é ter direitos. Se assim não entendermos o que aconteceu há um ano vai se repetir e a humanidade pagará um preço muito mais elevado do que aquele que está a pagar.

A maior ênfase deste livro?

A questão da cidadania global solidária. A democracia representativa pode ser aperfeiçoada com uma quota parte de democracia participativa. (…)É a minha verdade, não é absoluta mas é aquela que eu acredito que devo exprimir porque a minha idade e a minha vivência global dá-me o dever de o fazer. Senti também o imperativo de escrever o que escrevi com toda a frontalidade. Escrevi aquilo que penso. A menos que mudemos de paradigma, de comportamento humano e de sociedade acho que está lá exactamente aquilo que sinto. Este livro é apenas isso.


Excertos do livro

espiritualidade

"Só ela, a espiritualidade, nos permitirá, com «os pés no chão e a mente no rodopio das galáxias», vencer os desafios globais que descrevo na Primeira Parte do presente livro e outras que venham a surgir e implementar as soluções as soluções esperançosas que descrevo na Segunda Parte, terminando pela mais esperançosa de todas: a espiritualidade global fraterna."

"Temos que apostar nos valores universais, tais como o amor, a ética, a equidade, a justiça, a tolerância, o perdão, a solidariedade, a fraternidade, a dignidade, a honra e o civismo…sem os quais nada será possível, nomeadamente o restabelecimento da insubstituível e indispensável confiança entre os cidadãos, o Estado e o mercado. Isso também é espiritualidade …"
democracia
Uma certeza tenho: a democracia, que em todas as minha conferencias comparo a uma papoila, não é perene.
Ela terá de resistir, de se adaptar às mudanças ou de morrer, transitoriamente, até que o sopro da liberdade lhe volte a dar vida.


migrações
As migrações internacionais são, para uns, um grande desafio e, para outros, infelizmente, uma grande ameaça… Façamos das migrações uma enorme oportunidade para a paz no Mundo e para o combate à pobreza, essa sim uma grande ameaça global.

PERFIL
O seu percurso de vida traça o seu perfil. Nasceu em Luanda, com 13 anos mudou-se para o Congo e com 16 para Bruxelas, capital onde estudou e residiu até 1985. Nesse ano veio para Portugal. Doutorado em Medicina é especialista em Cirurgia Geral e Urologia. É ainda professor catedrático e Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Mais conhecido entre nós por ter fundado em Portugal a Assistência Médica Internacional (AMI) entidade que preside, foi administrador dos Médicos sem Fronteiras na Bélgica. É membro de inúmeras organizações internacionais de renome, recebeu várias distinções - entre elas a Medalha de Ouro para os Direitos Humanos - e é reconhecido por todos como um homem de causas. Um homem que não conhece apenas as realidades que descreve, sente-as.
NATUARALMENTE, FERNANDO NOBRE TEM TODO O MEU APOIO, PARTILHO DAS SUAS IDEIAS E VALORES, SABENDO QUE TENHO UM LONGO CAMINHO PARA PERCORRER.

Da crise ao crescimento e desenvolvimento economico

Fábrica das Caldas passa de regime de lay-off para novos recordes de produção
18.02.2010 - 07h18
Por Carlos Cipriano
Joana Bourgard/PÚBLICO

Unidade fabril de rolamentos estava há menos de um ano a laborar apenas três dias por semanaA fábrica de rolamentos das Caldas da Rainha, que pertence ao grupo alemão Schaeffler, estava há menos de um ano em lay-off, laborando apenas três dias por semana e com 60 trabalhadores despedidos. Mas agora está a contratar pessoal, prevê atingir já este ano um recorde de produção e vai investir 17 milhões de euros para aumentar em 40 por cento a sua capacidade de fabrico.

"Isto é tudo muito rápido. É a era da Internet. De repente, ficámos sem encomendas e, de repente, temos imenso trabalho. Entrámos subitamente na crise e fomos rápidos a sair dela."

Carlos Gouveia, director-geral da Schaeffler, está ele próprio surpreendido com a súbita recuperação da sua fábrica. Depois de uma queda na produção de quase 50 por cento em 2009, a fábrica voltou aos níveis anteriores à crise e prevê até ultrapassá-los, estimando chegar aos 60 milhões de rolamentos em 2010 (o que constituirá um recorde) e prepara-se já para atingir os 100 milhões nos próximos anos. Para dar resposta a este acréscimo de procura, a Schaeffler recrutou recentemente 30 trabalhadores para o quadro e mais 30 temporários, subindo a 330 o total de colaboradores.

E prepara-se para admitir mais engenheiros e quadros técnicos. Produzir para exportar A antiga Rol - como é conhecida nas Caldas da Rainha, há 50 anos - está a produzir para os seus mercados habituais (Europa, Estados Unidos e Brasil) cerca de 80 por cento da produção. O maior cliente é alemão. A BSH Bosch und Siemens Hausgerate incorpora rolamentos made in Portugal nos seus electrodomésticos (desde máquinas de lavar a secadores de cabelo), bombas de água e moto-serras. Das Caldas vão também rolamentos para as caixas de velocidade de algumas gamas de automóveis da Mercedes e da BMW, bem como para as ventoinhas dos radiadores da Peugeot e Citroen. Curiosamente, alguns países de mão-de-obra barata também são clientes. É o caso da Indonésia (cujas fábricas da Suzuki incorporam rolamentos feitos em Portugal) e da Índia (que absorve 8 por cento da sua produção).

Mais: a própria China importa rolamentos da Schaeffler Portugal, que se destinam a fábricas de capital alemão que se deslocalizaram para aquele país. O segredo deste êxito é um novo produto - um rolamento mais silencioso e mais barato que tem tido grande aceitação e em cuja produção a fábrica das Caldas da Rainha é pioneira. Por outro lado, explica Carlos Gouveia, a Schaeffler lançou uma ofensiva comercial a nível mundial com vista a aumentar a sua quota de mercado, que se tem traduzido num acréscimo de encomendas para a fábrica portuguesa.

O responsável diz que foi muito importante a forma como foi aplicada a controversa lei do lay-off na sua fábrica, que, ao contrário de outras empresas, abrangeu a própria administração e o pessoal administrativo. "Normalmente, as empresas mandam para casa os trabalhadores da produção, mas ficam na empresa o pessoal dos escritórios e os administradores, ou seja, não se poupa nada nos custos fixos. Mas nós, quando decidimos laborar a 60 por cento, entendemos que isso se aplicaria a toda a gente", contou, comentando que não foi agradável constatar na sua própria declaração de rendimentos de 2009 que ganhara muito menos do que em anos anteriores.

A verdade é que quando a produção parou dois dias por semana, a empresa não gastava quase nada. O segurança atendia o telefone e recebia o correio e a fábrica estava simplesmente, desligada. Um controlo rigoroso dos custos e um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Metalúrgica que privilegia a flexibilidade laboral explicam a longevidade desta fábrica, que foi fundada em 1960 por um grupo de empresários caldenses, mas que desde 1996 está em mãos alemãs (há 35 anos detida pela FAG e há cinco pela Schaeffler). Os operários têm um banco de horas, uma espécie de conta-corrente com a empresa que lhes permite usar folgas a meio da semana e, em contrapartida, trabalhar mais quando os picos de produção assim o exigem.

A unidade não tem departamento de marketing, nem comercial nem de comunicação, mas exige-se-lhe que fabrique rolamentos com qualidade e de baixo custo, o que tem vindo a conseguir. Não é, porém, uma típica fábrica cuja competitividade advém dos baixos salários (a Schaeffler é das empresas que melhor pagam nas Caldas da Rainha). Sendo, dentro do grupo, a fábrica que lidera a produção para o exigente mercado europeu, possui tecnologia de ponta e um elevado grau de automatização

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

A revolta do Presidente da AMI

A revolta do Presidente da AMI

Dr. Fernando Nobre, "Temos 40% de pobres", III Congresso Nacional de Economistas

O presidente da AMI, Fernando Nobre, criticou hoje a posição das associações patronais que se têm manifestado contra aumentos no salário mínimo nacional. Na sua intervenção no III Congresso Nacional de Economistas, Nobre considerou "completamente intolerável" que exista quem viva "com pensões de 300 ou menos euros por mês", e questionou toda a plateia se "acham que algum de nós viveria com 450 euros por mês?"

Numa intervenção que arrancou aplausos aos vários economistas presentes, Fernando Nobre disse que não podia tolerar "que exista quem viva com 450 euros por mês", apontando que se sente envergonhado com "as nossas reformas".

"Os números dizem 18% de pobres... Não me venham com isso. Não entram nestes números quem recebe os subsídios de inserção, complementos de reforça e outros. Garanto que em Portugal temos uma pobreza estruturada acima dos 40%, é outra coisa que me envergonha..." disse ainda.

"Quando oiço o patronato a dizer que o salário mínimo não pode subir.... algum de nós viveria com 450 euros por mês? Há que redistribuir, diminuir as diferenças.

Há 100 jovens licenciados a sair do país por mês, enfrentamos uma nova onda emigratória que é tabu falar. Muitos jovens perderam a esperança e estão à procura de novos horizontes... e com razão", salientou Fernando Nobre.

O presidente da AMI, visivelmente emocionado com o apelo que tenta lançar aos economistas presentes no Funchal, pediu mesmo que "pensem mais do que dois minutos em tudo isto".

Para Fernando Nobre "não é justo que alguém chegue à sua empresa e duplique o seu próprio salário ao mesmo tempo que faz uma redução de pessoal. Nada mais vai ficar na mesma", criticou, garantindo que a sociedade "não vai aceitar que tudo fique na mesma".

No final da sua intervenção, Fernando Nobre apontou baterias a uma pequena parte da plateia, composta por jovens estudantes, citando para isso Sophia de Mello Breyner. "Nada é mais triste que um ser humano mais acomodado", citou, virando-se depois para os jovens e desafiando-os: "Não se deixem acomodar. Sejam críticos, exigentes. A vossa geração será a primeira com menos do que os vossos pais".

Fernando Nobre ainda atacou todos aqueles que "acumulam reformas que podem chegar aos 20 mil euros quanto outros vivem com pensões de 130, 150 ou 200 euros... Não é um Estado viável! Sejamos mais humanos, inteligentes e sensíveis".