terça-feira, maio 25, 2010

terça-feira, maio 18, 2010

É Preciso Aprender a Amar

Que se passa para nós no domínio musical?
Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.

Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos.

A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade.

Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

sexta-feira, maio 07, 2010

O Crime compensa... ou não ?

Deputado do furto eleito conselheiro

Ricardo Rodrigues, o deputado socialista que furtou dois gravadores a jornalistas durante uma entrevista, foi ontem recebido com aplausos na reunião do grupo parlamentar e viu oficializada a sua nomeação como conselheiro do primeiro-ministro para as questões de segurança interna.

Numa resolução do Parlamento ontem publicada em Diário da República, Ricardo Rodrigues e José Pedro Aguiar-Branco (PSD) foram eleitos membros do Conselho Superior de Segurança Interna. De acordo com a Lei da Segurança Interna, este órgão é composto, entre outros, por dois deputados "designados pela Assembleia da República por maioria de dois terços dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções".
A nomeação para o cargo de alta confiança do primeiro--ministro, que preside o Conselho, surge numa altura em que todas as atenções estão viradas para Ricardo Rodrigues, depois de o deputado se ter envolvido na polémica com gravadores furtados a dois jornalistas da revista ‘Sábado’. E se, assim mesmo, dúvidas houvesse sobre a confiança do PS em Ricardo Rodrigues, o líder parlamentar do partido clarificou: "Conto com ele, o partido conta com ele e o País conta com ele", disse Francisco Assis, negando a intenção de afastar o deputado das funções.
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) remeteu ontem para a Comissão da Carteira e Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas a apreciação das queixas dos jornalistas.
SAIBA MAIS
SEGURANÇA INTERNA

O Conselho Superior de Segurança Interna é o órgão interministerial de auscultação e consulta do primeiro-ministro em matéria de segurança interna.
2008
Cavaco Silva promulgou a nova Lei de Segurança Interna em Agosto de 2008, que muita polémica gerou com a criação de um ‘superpolícia’.

O Relatório Anual de Segurança Interna de 2009 indica que se extraviaram três armas por dia, num total de 1095 extraviadas.
COMPOSIÇÃO
O Conselho Superior de Segurança Interna é composto, entre outros, pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, pelo comandante--geral da GNR, directores nacionais da PSP, da PJ e do SEF.
ASCENSO NOMEADO PARA ERSE
O ex-secretário de Estado e antigo deputado socialista Ascenso Simões foi ontem nomeado vogal do conselho de administração da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), durante a reunião de conselho de ministros.

Licenciado em Ciências Empresariais – Gestão e com uma pós-graduação em Gestão Pública, Ascenso Simões é membro da Comissão Nacional do PS, desempenhando ainda o cargo de presidente da Distrital de Vila Real do partido. Para além disso, o responsável está nos órgãos sociais de empresas ligadas ao sector energético: é presidente do conselho de administração da Tecaprod e administrador da Luzfisa. Na ERSE, Ascenso Simões irá ocupar o cargo de vogal, funções até então exercidas por Maria Margarida Aguiar e cujo mandato terminou em Julho de 2009.

in: jorrnal Correiro da manhã de 07-05-2010, edição Online

quinta-feira, maio 06, 2010

'Sérgio', o brasileiro com um sonho de paz, uma vida dedicada à Humanidade

Por causa do carisma que aliava à sua inabalável vontade política, dizia-se que ‘Sérgio’ era uma mistura entre o espião inglês James Bond e o norte-americano Bobby Kennedy. Mas, Sérgio Vieira de Mello era brasileiro: homem de sangue quente e sorriso fácil, revelou-se um dos mais notáveis diplomatas das Nações Unidas.
Quase sete anos depois da morte do diplomata, é esse o retrato que a cadeia norte-americana HBO quer evocar, quando emitir esta noite o documentário ‘Sérgio’ (trailer à esquerda), baseado na biografia ‘O homem que queria salvar o mundo’ da autoria de Samantha Power – e editada em Portugal pela Casa das Letras.

Com a capital iraquiana como cenário de fundo, o documentário revisita a missão de Sérgio Vieira de Mello em Bagdade, enquanto enviado especial do Secretário-Geral da ONU no Iraque - missão fatal para o brasileiro: foi em solo iraquiano que, a 19 de Agosto de 2003, Sérgio viria a ser assassinado pelos insurgentes, que o acusavam de servir os interesses da Administração Bush.

A uma semana do final da missão de Sérgio Vieira de Mello na capital iraquiana, um camião armadilhado explodiu junto ao edifício da ONU em Bagdade, muito próximo da janela do escritório do diplomata brasileiro. O ataque, reivindicado pela rede terrorista da Al-Qaeda, provocou dezenas de feridos e 21 mortos.

Uma das vítimas mortais seria mesmo o diplomata brasileiro: Sérgio Vieira de Melo foi ferido com gravidade, ficando aprisionado entre os escombros do edifício, depois de os seus 3 andares desabarem de uma só vez.

Um dado simbólico: depois de ter morto, Sérgio Vieira de Melo foi transportado para fora de Bagdade, num caixão coberto pela bandeira da ONU – um símbolo de uma vida inteira dedicada à organização. afinal, foi aos 21 anos, que o brasileiro começou a trabalhar para a organização, cumprindo ao todo 33 anos de serviço.

Chorado de Nova Iorque até Díli

Quando a notícia da sua morte foi difundida pela comunicação social, o mundo sofreu em silêncio: na sede da ONU, em Nova Iorque, todas as bandeiras foram retiradas - apenas a bandeira azul e branca da organização foi mantida a meia haste. O Secretário-Geral da ONU na altura, Kofi Annan, considerou a morte de Sérgio Vieira de Melo um ‘duro golpe’.

Definido pelos colegas das Nações Unidas como ‘uma estrela em ascensão’, era encarado como o mais provável sucessor de Kofi Annan – cargo para o qual viria a ser eleito o coreano Ban Ki-Moon em 2006.

A morte de Sérgio Vieira de Mello foi chorada também em Timor-Leste: afinal de contas, em 1999, foi o brasileiro quem conduziu os destinos do país durante o período de transição para a independência (à frente da Administração Transitória de Timor-Leste), abrindo caminho às primeiras eleições livres.

O maior sucesso da sua carreira diplomática? Talvez, diz ainda hoje a BBC. Também por isso, o Nobel da Paz José Ramos-Horta (hoje Presidente da República de Timor-Leste) classificou a morte de Sérgio Vieira de Mello como uma ‘tremenda perda’, que deixou o país de luto.


Uma carreira dedicada à Humanidade

De Dili, seguiu em 2002 para Genebra, onde tomou posse como Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos – um tema caro ao alto funcionário brasileiro, dado o longo currículo de trabalho humanitário nos mais desoladores cenários por todo o globo.

Ao serviço do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (hoje liderado por António Guterres), Sérgio Vieira de Mello participou também em missões em regiões com graves situações humanitárias, desde o Cambodja, aos Balcãs, passando ainda pelo Ruanda, Sudão e Moçambique (por onde passou durante o período de guerra civil que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974).


Passados quase sete anos da sua morte, Sérgio Vieira de Melo é recordado pelo seu carácter pragmático, e também pela sua coragem. Afinal de contas, em cenários de risco, Sérgio mostrava-se sempre confiante: 'Deus é brasileiro', costumava dizer.



+ Saiba mais sobre Sérgio Vieira de Mello;

segunda-feira, maio 03, 2010

Dia da mãe (para a minha mãe- 30-03-1942 - 13-01-2010)

Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga


quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.


Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.


Mãe, na sua graça,
é eternidade.


Por que Deus se lembra
— mistério profundo —
de tirá-la um dia?


Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:


Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


Carlos Drummond de Andrade, in 'Lição de Coisas'