sexta-feira, novembro 25, 2005

A CONSPIRAÇÃO nos mais altos cargos da Nação, segundo Expresso



A revelação do Expresso de sábado, dia 19 de Novembro, da conspiração sistémica para a destituição de José Souto de Moura, por Abel Pinheiro, Paulo Portas, Sócrates, Rui Pereira e Jorge Sampaio, por interposto assessor presidencial (Fernando Marques da Costa), e a sua substituição por um correlegionário dócil, apoiado pelos entalados, não é uma surpresa sobre o funcionamento do poder político português: é uma confirmação.
Esta é a enésima tentativa de decapitação do poder judicial autónomo.A vergonha é tal que, segundo o Expresso, Sócrates teria pedido ajuda a Portas para demitir Souto de Moura!...
A vontade de Sócrates, comunicada ao Presidente da República, só não terá vingado porque, segundo o jornal, Sampaio, que concordava com o propósito, não aceitava o moderno Rui Pereira e não considerava o momento oportuno!...
Perguntado pela imprensa, ao lado do seu colega Zapatero, Sócrates, confirmou, desmentindo, com o argumento de que "o Governo nunca apresentou [ao Presidente da República] qualquer proposta para a substituição do senhor procurador-geral da República"...Num país onde a vergonha existisse, as consequências morais seriam extraídas mesmo antes de se abrir um inquérito judicial.
Aqui, tudo como tem sido, que dantes era diferente.Nada espanta.A esperança de ruptura socrática foi imediatamente após a eleição dissipada pela clareza das escolhas sistemáticas das personalidades para os cargos políticos.
Nem era preciso a confirmação da política de pressão continuada sobre o poder judicial, Procuradoria e magistraturas, preparada pela armadilha do fait-divers da eliminação do seu sub-sistema de saúde próprio (enquanto, paradoxalmente à moralização indicada, se mantém em pleno vigor o sub-sistema de saúde dos jornalistas), de neutralização das polícias, das regalias dos autarcas, e de protecção mais ou menos encapotada dos alvos mais expostos, de Felgueiras a Oeiras.
Há no poder político português uma convicção consolidada, unânime, de matriz ditatorial, filiada no autoritarismo, mesmo se em ambiente de democracia formal, que dispensa o povo, que o governa em vez de o representar.
Essa convicção de que o povo é irrelevante, semelhante à tese salazarista de que "politicamente só existe o que o povo sabe que existe", suporta-se no controlo apertado dos media e na dependência do poder judicial.O povo é irrelevante enquanto for mantido na ignorância da corrupção do poder político pela detenção directa (RTP, RDP, Lusa) e indirecta (DN, JN, 24 Horas, TSF) dos media, a posse de outros media por grupos próximos (a Media Capital da TVI e outros pela Prisa socialista espanhola) e a dependência económica de outros grupos (Balsemão, Cofina).
Isto é, muito para além do controlo vulgar através dos spinners dos gabinetes e dos empregos cruzados, o Estado detém e controla os media dominantes. O Estado mantém ainda o poder decisivo, nesta fase de desenvolvimento tecnológico, de autorizar a criação de novas rádios e canais de televisão (e de novos canais na TV Cabo).
O poder judicial é também decisivo para o controlo político do sistema através da pressão para o agiustamento dos processos.
Os blogues atrapalham a opacidade criminosa do poder.
Não têm a projecção suficiente, em termos de número de leitores, para impor a transparência e criar a democracia directa da IV República.
Incomodam, mas ainda não têm capacidade para vencer.Liberto da tutela intermediadora dos media de confiança o sistema não sobrevive.
Daí ser indispensável a criação de um grupo mediático autónomo para o movimento da IV República.
Publicado por Antonio Balbino Caldeira em 11/22/2005

1 comentário:

  1. Bom texto , mais não esta tão´perdido quanto o Brasil! as revelações de corrupção são absurdas e pior de tudo temos um presidente que governa um outro país que não o Brasil e fica achando que esta tudo otimo! Portugal mais perdido do que o Brasil eu acho que não viu!
    Beijos

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