terça-feira, janeiro 03, 2006

Pedofilia: deram a cara em defesa das vítimas da Casa Pia



Pedofilia: deram a cara em defesa das vítimas da Casa Pia

Indícios de perseguição

Jorge Godinho Felícia Cabrita teve de deixar o ‘Diário de Notícias’Pedro Namora, Felícia Cabrita e Manuela Moura Guedes são três personalidades que sempre defenderam as vítimas de abusos sexuais da Casa Pia. Três anos depois do escândalo ter sido tornado público, Pedro Namora foi despedido da Câmara Municipal de Odivelas (coordenava o gabinete de Turismo), Felícia Cabrita teve de deixar o ‘Diário de Notícias’ (trabalhava na revista ‘Grande Reportagem’) e Moura Guedes abandonou a apresentação do ‘Jornal Nacional’, da TVI.

Contactado pelo CM, o antigo casapiano confirmou que foi despedido da Câmara de Odivelas – presidida por Susana Amador (Partido Socialista) – mas fez questão de garantir que irá “continuar a dar a cara em defesa” dos jovens que foram abusados sexualmente na instituição que Pina Manique fundou no dia 3 de Julho de 1780.Já Felícia Cabrita não esconde que o processo Casa Pia pode estar relacionado com a sua saída do ‘Diário de Notícias’. “Fui eu que quis deixar o jornal, mas é minha convicção que, por tudo quanto escrevi relacionado com o processo de pedofilia, iria ser perseguida. Prova disso é que, quando fui tratar da rescisão, disseram-me que não me enquadrava no projecto para a nova revista que o ‘DN’ vai lançar”, disse ao CM a jornalista que, em Novembro de 2002 assinou no semanário ‘Expresso’ a peça que deu origem ao processo Casa Pia.Sem se deter, Felícia Cabrita acrescentou: “Antes de mim afastaram Joaquim Vieira da direcção da ‘Grande Reportagem’.

Acho que ele saiu por causa das crónicas que, sob o título de ‘O Polvo’, escreveu sobre os mandatos presidenciais de Mário Soares e por ter permitido a publicação de escutas do processo Casa Pia que envolviam dirigentes do PS. Demitir Joaquim Vieira de um dia para o outro foi altamente suspeito.”A jornalista salienta, ainda, estar convicta de que o poder político tentou “tirar” Catalina Pestana da Provedoria da Casa Pia, que está por detrás do “cerrado ataque” que tem sido feito ao procurador-geral da República, Souto Moura, e da saída de Manuela Moura Guedes da apresentação do principal bloco noticioso da TVI.

“No caso da dra. Catalina Pestana só a intervenção do Presidente da República, Jorge Sampaio, impediu que a afastassem da Casa Pia. Quanto a Manuela Moura Guedes é incompreensível o que se passou. Ela é a grande responsável pela brutal audiência do ‘Jornal Nacional’ e, a não ser que falemos em pressões políticas, o seu afastamento não tem qualquer lógica.

”Contactada também pelo CM, Manuela Moura Guedes não quis abordar as razões que a levaram a deixar a apresentação do ‘Jornal Nacional’ da TVI, mas observou que, em relação ao processo Casa Pia está de “consciência tranquila”. “Como sempre, no futuro estarei ao lado das vítimas, sejam elas vítimas da injustiça, da miséria, da fome, do ostracismo ou da pedofilia”, concluiu.

CASA INVADIDA ÀS SETE DA MANHÃ

António Caldeira foi processado por, no blogue Portugal Profundo, ter divulgado peças processuais do caso de pedofilia. O professor universitário diz que tal só aconteceu por sempre ter defendido as vítimas da Casa Pia: “Sinto que o poder judicial é instrumentalizado pelo poder político. Perdeu a sua autonomia e até deixou de ser um poder. Vi a minha casa invadida às sete da manhã. Ainda era de noite.

A casa de minha mãe também foi revistada à mesma hora. Nunca mais me esqueço do que fizeram a uma senhora de 78 anos, por causa do filho ter defendido as vítimas de pedofilia na Casa Pia. Nem nunca mais esquecerei o susto que vi nos olhos dos meus dois filhos menores”.E acrescentou: “Levaram-me o computador com a minha tese de doutoramento, que só devolveram passados sete meses. Sem mandado, revistaram o carro de minha mulher com ela e os meus filhos lá dentro.

Vasculharam e imprimiram a minha correspondência electrónica, apesar de a lei não autorizar a apreensão de correspondência para crimes com pena inferior a três anos de cadeia, que era o meu caso.”A concluir, António Caldeira reafirmou: “Fui alvo de uma perseguição política, por, alegadamente, ter desobedecido a um despacho judicial que estava em segredo de Justiça. No julgamento provei que não conhecia esse despacho. Só tomei conhecimento dele no dia da sentença que me absolveu do crime de desobediência simples”.

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