sexta-feira, julho 16, 2010

O nosso futuro

Apesar de não parecer, a História não acontece da mesma maneira mais do que uma vez.


Há sempre diferenças porque a economia mundial é um gigantesco Sistema Adaptativo Complexo.

Embora haja leis universais, sob as quais todos se regem, o modo de as integrar é diferente.

No entanto, tal como Maquiavel dizia, o mundo sempre foi povoado por seres humanos que sempre tiveram as mesmas paixões, ou por outras palavras, por muito que as coisas mudem fica geralmente tudo na mesma, o governador e o governado podem trocar de posições mas haverá sempre governadores e governados. Como alguém disse: conquistámos o inimigo, ocupámos o seu lugar, agora somos nós o inimigo.

Por muito que os intrumentos e as nações mudem, as paixões ditam o mesmo desfecho a toda a hora.

Daí a pergunta:

Haverá novamente uma Grande Depressão?

E a resposta:

Sim e Não.

Haverá países com imensa inflação e outros com imensa deflação.

Aqueles que se limitam a juntar alguns gráficos de 1929 e sobrepô-los a gráficos actuais terão muitas surpresas.

Nem havia na altura crises orçamentais gigantes nos países quase todos, nem há hoje em dia o padrão ouro a dominar as moedas globais.

Na altura, quando toda a Europa colapsou à excepção da França, todos esperavam ser os EUA os próximos a caír, mesmo não tendo os EUA um enorme deficit, mas a questão era a do dólar ser ou não convertivel.

O exodo para investimentos de qualidade na altura não foi para o dólar ou obrigações americanas, mas isso foi apenas uma consequência do dólar ser directamente convertível em ouro. Logo, a fuga foi para o ouro.

Assim que essa paridade desapareceu por decreto, tivemos uma enorme subida da bolsa nova iorquina, que só parou em 1937.

Porque as empresas ficaram melhores?

Não, porque depois de suspensa a paridade o dólar deixou de ser ouro, logo deixou de ter tanta beleza, tendo começado a depreciar relativamente ao metal amarelo, trazendo a inflação e a consequente subida dos preços das acções.

Assim a fuga para a qualidade foi para a bolsa porque apostar no dólar, um investimento em depreciação seria um suícidio.

Isso significa que as subidas da bolsa nada querem dizer relativamente à saúde da economia.

Em 1933, com um desemprego superior a 25% nos EUA a bolsa já subia ininterruptamente há mais de um ano.

Por isso podemos dormir descansados sabendo que as coisas podem ainda piorar mesmo que a bolsa esteja a subir.

O efeito da revolução industrial na agricultura foi simplesmente monumental.

Em meados do século XIX, 70% dos empregos eram agrários, nos anos 30 eram 40% e nos anos 80 eram apenas 3%. Quer a meteorologia quer a tecnologia conspiraram para privarem os trabalhadores de terem empregos.

As semelhanças entre a Grande Depressão e a depressão europeia de 1340 são impressionantes.

Também nestes tempos a dívida soberana obrigou a colapsos financeiros em Inglaterra e em Napoles.

Todas as casas de câmbio (os bancos de então) em Florença (onde os Medici floresceram depois deste evento) desapareceram.

Esta crise começou a mover-se do Sul para o centro financeiro da Europa.

Na crise seguinte, em pleno século XVI a Espanha e a França colapsaram de forma a quase derrubar também o sistema bancário alemão. Isto tornou os Holandeses os principais financeiros europeus.

Contudo, em 1340, a depressão foi ainda maior depois do ataque à colónia genovesa do Mar Negro, trazendo a praga da peste negra, depois trazida para a Europa pelos genoveses em fuga.

Mais de 50% da população desapareceu, abrindo assim as portas ao moderno capitalismo, uma vez que o trabalhador se tornou um bem muito escasso.

Tal como então, foi o repentino desaparecimento da população que incentivou o boom económico europeu no século XX, com a II Grande Guerra, onde foram dizimados mais de 60 milhões de pessoas em 5 anos.

Em ambas as crises, foi comum a redução drástica da população, com um efeito de uma enorme inflação subsequente.

Assim, pondo em perspectiva a economia mundial ao longo dos séculos, existem tendências e padrões que se repetem tanto que se impõem como autênticas leis, pois independentemente do período temporal tudo se conjuga do mesmo modo.

O denominador comum é sempre a paixão/emoção. Agimos sempre do mesmo modo relativamente a eventos semelhantes.

É interessante ver que os governos tentam reinventar a roda por diversas vezes na História, sem nunca se perguntarem se alguma dessas coisas já foi tentada no passado, e se sim, com que resultados.

O capital foge de crises económicas antecipadas e o capital está neste preciso momento a voar para o dólar. E porquê?

Por causa do Euro.

Se o Euro quebrar iremos ter tempos totalmente doidos pela frente, com o capital mundial a fugir apressadamente para o ouro e para o dólar.

Acaberemos então com uma única moeda mundial?

Provavelmente.

E provavelmente será uma moeda forte e estável como o ouro foi até Bretton Woods mas que servirá apenas de reserva. Não de uso corrente, pois os países precisam de flexibilidade no seu câmbio para combater crises de endividamento, veja-se a Grécia e a Califórnia, que não conseguem desvalorizar a moeda e que enfrentam a bancarrota do seu próprio orçamento.

Significa isto que o tempo do Estado grande irá certamente morrer.

É provável que o dólar possa subir desmesuradamente mas por muito pouco tempo.

Depois, apenas inflação… muita inflação.

O desemprego subirá brutalmente mas virá não de trabalhadores agricolas como nas depressões passadas mas sim… de FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.

As empresas privadas já levaram com a estalada da crise em 2008 e 2009. Este ano já todas tomaram medidas extraordinárias. Já todas aprenderam a viver com menos, e as que não o fizeram ainda têm muito tempo para fechar.

Mas o Estado nada fez e ainda por cima é aquele que nada produz na economia.

Os Estados chegarão ao ponto de terem mais trabalhadores a servir o público do que público para ser servido, e inevitavelmente isso vai mudar.

Assim, à pergunta inicial se teremos uma depressão como nos anos 30, a resposta é Não.

Mas teremos instabilidade e volatilidade? Sim, uma enorme e impensável instabilidade e volatilidade dos números económicos.

Estamos numa encruzilhada muito séria.

O colapso é sempre a solução para o Estado gastador e metediço. Como Thatcher dizia, o Estatismo funciona apenas enquanto houver dinheiro dos outros para gastar. E o dia em que esse dinheiro acaba chegou.

Os governos estão a aumentar os impostos desmesuradamente, multando e penhorando tudo o que podem deitar a mão, mas simplesmente não podem declarar que tudo pertence ao Estado como tentou o imperador romano Maximinus.

Não resultou.

Matou a economia e reduziu a velocidade do dinheiro até terminar com o total colapso do império romano.

A resposta é não nos metermos com o dinheiro arduamente ganho das pessoas.

Devemos sim criar uma nova moeda, salvar a sociedade e ainda ter protecção social se terminar a ladroagem dos poderosos.

A alternativa até que os políticos percebam isso será a de tornar todo o cidadão num espião do Estado, pagando-lhe 10% de comissão por cada fuga aos impostos que denunciar, desde o grande burlão ao cliente que não pede factura num café.

Como infelizmente os Estados nunca fazem os passos correctos, mas sim cumprem os passos que não resultaram em épocas anteriores, há o risco real de um completo e total colapso da nossa economia.

Assim que a população perceber que poderá não haver nada para lhes pagar reformas e subsídios, o caos social sairá à rua.

São estes os padrões de comportamento dos afectados, e é assim que irão reagir, como no passado.

Por isso mesmo, e antes que seja tarde, é primordial perceber os padrões que vamos ter em jogo nos próximos tempos…

Esperemos que não se repitam… Mas as esperanças são poucas…

http://portal.apefipt.org/

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