quinta-feira, julho 20, 2006

Sá Carneiro fez frente a Carlucci

2006/07/19 23:15 Judite França

Americano tirou-o do sério na altura em que os EUA financiaram o PS



Sá Carneiro, 25 anos depois

Que os Estados Unidos financiaram o PS de Mário Soares por altura do primeiro executivo minoritário socialista já se sabe.
Mas que Franco Carlucci não queria que um Governo PS/PSD ficou claro numa reunião em Cascais que quase chegou ao confronto físico. Sá Carneiro alegava - e com a razão que só o futuro pode dizer - que um executivo socialista, que tinha alcançado 35 por cento nas eleições, era um governo a prazo. Durou um ano. Carlucci por outro lado não queria Sá Carneiro como primeiro-ministro: considerava-o irascível. E teve razão: o falecido delfim da direita esteve prestes a travar-se de razões com o embaixador norte-americano e a mostrar-lhe o quanto irascível era...
Na discussão, e já depois do Congresso norte-americano, com o presidente Ford a aceitar oferecer a Portugal «o grande empréstimo», assim adjectivado por se tratar de uma soma considerável de dinheiro que viajou para os cofres do PS, Sá Carneiro contestou o apoio a um Governo minoritário. Mas Carlucci não cedeu, apesar dos ímpetos do líder da direita.
Este é um dos temas que uma tertúlia servida com jantar vai revelar esta noite de quarta-feira no Porto, no Café Guarany. Promovida por Paulo Morais, ex-vice-presidente da câmara, na data do aniversário do nascimento de Sá Carneiro, amigos próximos juntam-se para recordar o antigo primeiro-ministro. Pronto para revelar factos históricos ainda não divulgados está o deputado do PSD e historiador José Freire Antunes que, em primeira mão, ao PortugalDiário, conta este momento quente da política portuguesa da década de 70 e ainda recuou no tempo para falar numa declaração que Sá Carneiro fez questão de assinar quando integrou a Assembleia Nacional, em 1969, marcando a distância com Marcello Caetano.
Nesse pedaço de papel, que firmava a «coragem» de Sá Carneiro, podia ler-se que o então deputado considerava-se «totalmente independente» da política marcellista. Uma prova de coragem num ambiente pouco democrático, diz Freire Antunes, realçando a faceta social-democrata do antigo primeiro-ministro.
Nem todos o olhavam assim e as visitas às prisões, enquanto deputado, e a defesa de um preso político do PCP, José Pedro Soares, valeu-lhe o epíteto de «sublíder subversivo». Numa época conturbada, de posições extremadas, Sá Carneiro esteve prestes de alcançar, em plena década de 70, a liderança de um partido de centro - entre a esquerda e o regime. Mas as más línguas consideravam-no demasiado avançado para o tempo e até «refém do PCP».
Esta noite, no Café Guariny, estas e outras histórias serão recordadas por Freire Antunes, que cedo publicou um livro sobre as cartas a Marcello Caetano, que ajudam a perceber os contornos já desbotados da história. Sá Carneiro escreveu missivas ao presidente do Conselho que explicam o percurso do antigo primeiro-ministro antes do 25 de Abril.
Nomeadamente, escreveu a Caetano criticando a forma como o Bispo do Porto, exilado, não pôde visitar o país para estar presente no funeral da mãe, enquanto Mário Soares, também exilado em São Tomé, pôde voltar a Portugal.
Recordando estes e outros momentos de uma vida cheia de acontecimentos fracturantes, Paulo Morais e um conjunto de amigos, alguns que privaram com Sá Carneiro, querem festejar o nascimento, antes de assinalar uma morte trágica. Mais do que nascimento, este jantar privado festeja as ideias de um homem, que Freire Antunes irá rememorar numa primeira intervenção, sobretudo o período de luta contra a ditadura antes do 25 de Abril.
«Era um homem de rupturas, que lutou antes de 1974, mas também não pactuou com o sistema perverso do período pós-Abril», diz Paulo Morais ao PortugalDiário que, com orgulho, olha para um homem «desprendido de lugares, que antes de morrer tinha dito que pretendia deixar o cargo de primeiro-ministro». Crítico do sistema, Morais considera que «não é por acaso que este regime festeja a morte de Sá Carneiro. Tenho a certeza que não pactuaria com este estado de coisas».

1 comentário:

  1. Trocas financeiras entre lojas maçónicas: o P.S. não passa de uma loja maçónica polico-partidária.
    A demo-cracia impede agentes de autoridade de continuarem as suas investigações no caso Casa Pia.
    Dantes eu pensava que as enormes olheiras que maior parte dos políticos apresentavam era porque liam muito... hoje sei que é devido à sua postura demoníaca de se divertir, dar-nas-vistas e encher a pança.

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