terça-feira, maio 15, 2007

Alzheimer

Exame do líquor pode fornecer diagnóstico precoce da doença
Reportagem: Antonio Carlos Quinto - Agência USP de Notícias

Equipamentos do LIM-27 já estão analisando algumas amostras de líquor
O Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) pode ser um indicativo de que a pessoa pode estar próxima de ser acometida por uma doença mais grave: o Mal de Alzheimer. "Mas nem sempre é assim", alerta o médico psiquiatra Orestes Vicente Forlenza. "Ainda faltam diagnósticos mais precisos para identificar quais pacientes estão mais propensos à doença", diz.


No Laboratório de Neurociências (LIM-27) do Instituto de Psiquiatria (IPq), do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, Forlenza coordena um grupo de cientistas que vem aperfeiçoando o diagnóstico do CCL por meio da análise do líquor. O líquor (líquido céfaloraquidiano), que banha todo o cérebro e a medula espinhal, pode refletir determinados processos anormais ou doenças que acometem o sistema nervoso central.

A análise do líquido é usada, por exemplo, no diagnóstico da meningite e outras doenças do sistema nervoso. O líquor possui em sua composição pequenas quantidades de proteínas cerebrais. "São justamente estas proteínas, a que chamamos biomarcadores, que nos permitirão um diagnóstico antecipado se o paciente terá ou não uma pré-disposição a desenvolver o Alzheimer", explica Forlenza. Ele conta que esses estudos estão em fase adiantada na Europa, principalmente na Alemanha e na Suécia.

Lá, em um ano no máximo, já poderão ser observados resultados mais precisos.

No Brasil, o grupo liderado pelo pesquisador é pioneiro e deu início a um estudo que envolverá cerca de 80 pacientes. "Trata-se de um passo importante no diagnóstico prévio de uma doença incurável que atinge principalmente os idosos. Em pouco mais de dois anos poderemos ter, no Brasil, resultados devidamente comprovados", acredita. Além dos pacientes que serão avaliados pela equipe de cientistas, o IPq dispõe de equipamentos de alta tecnologia para análise do líquor.

Algumas amostras já vêm sendo analisadas nos laboratórios do LIM-27. Estudo conjunto As pesquisas com o líquor caminham juntamente com outro estudo que avalia o potencial neuroprotetor do lítio, na prevenção da doença de Alzheimer. O grupo de pesquisadores do LIM-27, chefiado pelo professor Wagner Gattaz, no final do ano passado, mostrou pela primeira vez na literatura mundial que o carbonato de lítio, um medicamento usado há mais de 50 anos para tratar o transtorno bipolar de humor, poderia influir na incidência do Alzheimer.

"Segundo a tese de doutorado da médica Paula Nunes, defendida no IPq, o carbonato de lítio exerce ações neuroprotetoras inibindo a enzima GSK 3 ß (beta), relacionada aos dois principais mecanismos patogênicos do Mal de Alzheimer", descreve Forlenza. A tese apresenta as evidências clínicas de uma constatação até então feita exclusivamente em laboratório: a de que o lítio previne a formação dos depósitos de beta-amilóide (peptídeo que tem ação tóxica sobre os neurônios) e dos novelos neurofibrilares, que são os neurônios em fase de degeneração.

O estudo foi veiculado este ano numa importante publicação médica mundial, o periódico inglês British Journal of Psychiatry. Forlenza explica que pacientes portadores do Comprometimento Cognitivo Leve serão submetidos ao tratamento com doses diminutas de lítio durante dois anos, que é o tempo de duração da pesquisa. O estudo será conduzido no IPq e servirá para comprovar, clinicamente, se a ação do lítio modifica a composição de algumas proteínas e enzimas relacionadas à fisiopatologia da doença Alzheimer.

Forlenza lembra que a análise do líquor complementa os estudos com a administração do carbonato de lítio. "As pesquisas com o carbonato de lítio já foram testadas in vitro e com animais em laboratório", lembra o pesquisador. "Assim, as análises do líquor irão comprovar clinicamente as hipóteses e, ao mesmo tempo, apresentar uma técnica inovadora no diagnóstico precoce do Alzheimer", constata o médico. Ele antecipa que a retirada do material para análise é relativamente simples, porém, deve ser realizada por um neurologista especializado. "Deve ser feita uma punção lombar, como o procedimento de uma anestesia por bloqueio medular (tipo "raqui" ou peridural), aplicada na região da coluna vertebral em algumas cirurgias", explica Forlenza.

Após a extração, o líquor é analisado em equipamentos de alta tecnologia no LIM-27 que podem quantificar mínimas variações das concentrações dessas proteínas. As análises permitirão a associação do diagnóstico precoce a medicamentos mais eficazes.

Mais informações: (0XX11) 3069-7924 ou 3082-2037, com o médico Orestes Vicente Forlenza; e-mail forlenza@usp;br

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