quarta-feira, julho 25, 2007

«Tradição de bufos e queixinhas»

2007/07/25 13:17 Luísa Melo

Desajustado e desenquadrado ou oportuno e pertinente?
Uma crítica a Sócrates ou um alerta à navegação? As opiniões ao artigo de Manuel Alegre. Dentro e fora do PS. Vivemos um clima de medo?, ou há quem não consiga descolar-se do passado?

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Desajustado e desenquadrado ou oportuno e pertinente? Dentro do PS as opiniões dividem-se sobre o artigo de Manuel Alegre publicado esta quarta-feira no jornal Público e intitulado «contra o medo, liberdade».

Quem está de fora e olha para o partido vê tudo isto como uma «crítica severa» ou «um alerta vindo do fundo do coração». Há conselhos dados a Sócrates e até quem trace um perfil dos portugueses:
«Temos tradição de bufaria e queixinhas».

«É o que muita gente pensa dentro do partido»

«É o verdadeiro discurso do Estado da Nação». Helena Roseta ficava por esta frase para classificar todo o artigo de Manuel Alegre. Mas instada a falar mais, classifica a crónica como «uma crítica severa a comportamentos inaceitáveis».

No fundo, acrescenta ao PortugalDiário, «está ali tudo, o que muita gente pensa dentro do partido».

Roseta, claro está, revê-se nas «críticas» de Alegre, mas acredita que muitos socialistas também assinam por baixo: «As pessoas estão insatisfeitas. De certeza que leram isto, identificaram-se e disseram «é isto mesmo».

Quanto a Sócrates, a ex-socialista e actual vereadora independente na câmara de Lisboa deixa-lhe uma sugestão: «Devia ler, meditar e corrigir os erros. E acho que o vai fazer».

João Soares, um dos citados por Alegre, classifica o artigo como «interessante e oportuno», mas faz questão de frisar que hoje «se vive um clima em que é politicamente correcto dizer mal dos partidos políticos».

Por outro lado, João Soares sublinha que Alegre diz que não vivemos numa ditadura, nem para lá caminhamos. Aliás, acrescenta ao PortugalDiário, «é impensável que haja qualquer perigo de ataque às liberdade públicas. O que acontece, é que «vivemos numa sociedade mais papista do que o Papa, com uma tradição de bufaria e queixinhas».

Quanto ao clima de medo, descrito pelo vice-presidente da Assembleia da República, João Soares discorda e garante que «as pessoas podem dizer o que quiserem, inclusivamente podem dizer mal do primeiro-ministro».

Isso não muda o facto de «haver sempre gente com medo de dar a sua opinião».

O eurodeputado socialista Capoula dos Santos fala no mesmo tom. À Rádio Clube Português explicou que este artigo de Alegre «é a prova viva de que há liberdade de expressão no País e no partido» e o próprio artigo, acrescenta, «desmente completamente o seu conteúdo».

Por isso mesmo, adianta que considere «importante haver pessoas que façam esse discurso» de defesa da liberdade, Capoula dos Santos afirma que o artigo de Alegre «é completamente desajustado e desenquadrado».

Também Vítor Ramalho, em declarações à Rádio Clube Português, considerou que «estas chamadas de atenção não são vistas com dramas. É um acto normal». E conclui: «Encaro este artigo com completa normalidade», é uma tomada de posição que «incita o próprio partido».
«Um alerta do fundo do coração»

Sobre o artigo de Alegre, a social-democrata Zita Seabra diz ser «extremamente importante porque vem de quem vem, mas principalmente porque é corajoso». Aliás, acrescenta, «é um alerta do fundo do coração».

Alegre, diz Seabra, «tem razão quando diz que se trata de casos pontuais, mas estes casos não podem passar em branco, senão transformam-se em modos de ser. São um sintoma que deve ser denunciado».

Por isso mesmo, esta social-democrata espera que Sócrates «leia o artigo e tire daí ilações», se bem que, diz, «a tendência deverá ser para fazer de conta que não leu».

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