A antiga provedora da Casa Pia, Catalina Pestana, defende este sábado que a demora no julgamento do caso de pedofilia com crianças daquela instituição deve-se “porque era preciso” esperar por leis penais alegadamante mais brandas, referindo-se à entrada em vigor dos novos Códigos Penal e de Processo Penal.
Na segunda parte da sua entrevista ao semanário ‘Sol’, publicada hoje, Catalina Pestana considera que o artigo 30º do Código Penal, "como disseram vários juristas, foi feito expressamente para a Casa Pia", explicando que, ao contrário do que acontecia antes, “o actual Código Penal diz que um crime continuado de abuso sexual conta como um único crime".
Na segunda parte da sua entrevista ao semanário ‘Sol’, publicada hoje, Catalina Pestana considera que o artigo 30º do Código Penal, "como disseram vários juristas, foi feito expressamente para a Casa Pia", explicando que, ao contrário do que acontecia antes, “o actual Código Penal diz que um crime continuado de abuso sexual conta como um único crime".
"Eu percebo porque é que foi preciso esticar no tempo este processo, com o Tribunal a permitir a repetição de perguntas ‘ad infinitum’”, afirma a antiga responsável, referindo que ela própria foi ouvida durante cerca de três meses, “com os advogados todos a perguntarem aquilo que eu já tinha respondido três, quatro, cinco vezes” e que “às vítimas aconteceu o mesmo”.
Questionada sobre o facto de os novos Códigos terem sido aprovados com os votos do PS e do PSD, a ex-provedora afirma ter sido “uma das coisas que mais me incomodaram”, salientando que “só me dei conta da gravidade do que estava a acontecer com as alterações dos Códigos à medida que fui ouvindo os comentários dos especialistas”.
Catalina precisa que “parece que todos estão de acordo em que houve aqui questões políticas e não só técnicas e jurisdicionais”, acrescentando que ambos os partidos aprovaram a nova legislação porque “havia um pacto de Justiça, além de que a diferença entre os dois partidos hoje em dia tem de se ver ao microscópio, já não basta uma lupa”.
“Quanto às oposições, o meu sentimento é que esta votação ultrapassa muito os partidos políticos e que algumas alterações foram lideradas por outra formas que as pessoas têm de se organizar... mais discreta”, diz a antiga provedora quando indagada se se referia à Maçonaria.
“Mesmo assim eu não digo ‘a Maçonaria’, mas sim alguns sectores da Maçonaria”, declara Catalina Pestana, defendendo não se tratar de “uma associação de malfeitores, mas tem um defeito tenebroso: os seus elementos protegem-se uns aos outros”.
A ex-responsável anuncia ainda a criação, em Janeiro de 2008, de uma Rede de Cuidadores para defender as crianças de eventuais abusadores. “Se nos partidos todos acharam que este Código Penal e este Código de Processo Penal eram muito bons então a sociedade civil tem de se organizar para defender pelo menos aqueles que não têm ninguém adulto que os defenda”, refere a antiga provedora, esclarecendo que esta ideia, que será uma ONG independente, “decorre do processo Casa Pia”.
“A uma rede de abusadores só consegue opor-se uma rede de cuidadores”, frisa Catalina, explicando que a organização “irá intervir ao nível da formação de técnicos que trabalham com as vítimas, terá também apoio jurídico e um casa para que as vítimas não tenham de voltar à casa do abusador para dormir”.
Questionada se pretende divulgar nomes de pessoas alegadamente envolvidas neste caso de pedofilia, a antiga provedora diz que “quando isso acontecer, eu já cá não estarei. Vou deixá-los a quem há-de ficar vivo, para só daqui a 25 anos o publicar , como a lei diz”, sublinhando que vai deixar essa lista “a alguém de confiança absoluta”.
Recorde-se que na semana passada, Catalina Pestana denunciou a continuidade de abusos sexuais na Casa Pia e que havia informado a Procuradoria-Geral da República das suas suspeitas.
O gabinete de Pinto Monteiro confirmou ter recebido a queixa e a abertura de um inquérito à denúncia da antiga provedora.
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