domingo, outubro 07, 2007

RTP: administração «passa recados» do poder

2007/10/07 12:30

Rodrigues dos Santos denuncia «interferência despudorada» na informação

MAIS:
Director da RTP assume também direcção de RDP
Antigo correspondente da RTP em Madrid processado

A administração da RTP interfere nas decisões editoriais da informação e «passa recados» do poder político.

Quem o diz é José Rodrigues dos Santos, numa entrevista ao «Público», respondida por correio electrónico. O pivô há mais tempo no ar em horário nobre (16 anos) está «desmotivado» ao «ver o poder interferir despudoradamente na informação».
«Na minha experiência, os governos contactam as administrações e depois estas passam, ou não, os recados».


O jornalista recorda ainda que deixou o cargo de director de informação da estação pública em protesto contra o facto de a administração ter seleccionado, para correspondente em Madrid, a quarta classificada de um concurso para o lugar.


«Uma coisa é a administração, que é nomeada pelo Governo, tentar convencer-me a fazer algo na área editorial, mas a respeitar, mesmo com desagrado, a minha decisão de não me deixar convencer. Isto aconteceu-me com frequência mas não considero que essas tentativas tenham sido interferência, porque a decisão final editorial manteve-se com o director e, com agrado ou irritação, foi sempre respeitada.


Outra coisa é a administração tomar uma decisão na área editorial em substituição do director, na realidade contra ele. Isso é interferência consumada», referiu o jornalista, acrescentando que apesar de o episódio da corresponde em Madrid ter sido investigado e condenado pela então Alta Autoridade para a Comunicação Social, o caso ficou sem justiça até hoje.

Desde essa altura, deixou, por sua opção, de ter qualquer intervenção no alinhamento das notícias do Telejornal.


Certo de que ainda hoje está a pagar por se ter «oposto à interferência da actual administação», Rodrigues dos Santos admite que, olhando para trás, talvez não tivesse recusado os convites para director de informação dos canais privados e de correspondente da CNN no Rio de Janeiro.


No entanto, quando lhe perguntam se pretende sair da RTP responde: «Claro que não».


Administração considera acusações «graves»
Confrontado com as declarações do jornalista, o director de informação da RTP Luís Marinho afirmou, ao «Público»: «Não sei do que está a falar José Rodrigues dos Santos. Não sei se está a falar de situações do presente ou do passado. Se são do passado devia tê-las denunciado na altura».

Luís Marinho acrescenta ainda nunca ter sido alvo de pressões da actual administração que classifica como exemplar, sublinhando que «a RTP está sujeita a pressões como outros órgãos de comunicação social o estão».

Por seu lado, o conselho de administração garantiu que «nunca interferiu nem interfere nas opções editoriais da direcção de informação».

Apesar de «não ter por hábito discutir os problemas internos da empresa em público, sobretudo quando têm origem em declarações de um seu funcionário», neste caso, e «dada a gravidade dos excertos que nos foram comunicados, a administração da RTP reserva a possibilidade de uma resposta quando tiver o conhecimento completo das declarações proferidas pelo professor José Rodrigues dos Santos».

Sem comentários:

Enviar um comentário