terça-feira, setembro 15, 2009

Segurança com Liberdade

Os acontecimentos no Bairro Quinta da Princesa, Seixal, que se traduziram em confrontos entre grupos de jovens e agentes policiais, marcaram a actualidade informativa da passada semana. E logo, numa aparente confluência de pontos de vista, a generalidade da imprensa alegou tratar-se de disputas criminosas entre «gangues» e destes com lógicas de afrontamento com a polícia.
É receita simples, esta de escribas a soldo de estratégias securitárias, para iludir razões maiores que estão por detrás do clima de confrontação social vivido em alguns dos «bairros problemáticos»...
E nem mesmo a visão lúcida e séria de um graduado da PSP, que negou a existência dos ditos «gangues», antes assumindo tratar-se de atitudes de jovens «revoltados e desesperados» à procura do «seu espaço», coarctou a verbe psicótica e securitária dos escribas ao serviço do «malho da ordem pública», que vêem sempre hordas de «pretos» e «estrangeiros» sequiosas de sangue inocente - abrindo caminho ao discurso xenófobo da Extrema-direita trauliteira.Desde logo, importa desmistificar um mito.
Grosso modo os jovens de pele negra que vivem nesses bairros, são europeus como qualquer um de nós, porque nascidos cá e detentores da cidadania portuguesa, filhos de uma imigração que o País ufano das suas obras públicas, pagas com os fundos europeus, importou da miséria africana e explorou, oferecendo trabalho sem direitos e construindo guetos periféricos.
Filhos dizia, de gente de trabalho, mão-de-obra barata da nossa construção e da limpeza de escritórios e residências.
Sim, porque quem não se limite a falar por falar, e se permita conhecer a realidade profunda dos guetos, constatará o movimento matinal de saída dos bairros, com mulheres de ar cansado e homens taciturnos, deixando os filhos menores encarcerados nessa prisão maior que é o abandono nas ruas, à sua sorte e permeáveis ao convite fácil de redes que recrutam na miséria os «soldados» para as suas actividades criminosas.
Do outro lado, hipócrita e cínica, pontifica uma certa «Esquerda» paternalista e desculpabilizante, supostamente «anti-racista», que procura sempre argumentos rasteiros do género «coitadinho que é preto», fomentada pelos burocratas que inventam normas e definem comportamentos.
Os mesmos que criam grandes planos de «integração social» para se sustentarem a eles e aos «pretinhos de serviço» que pululam na generalidade das associações, supostamente, africanas!
É contra uns e outros que devemos encontrar respostas, com a comunidade, para os problemas da segurança dos cidadãos, contrariando o caminho fácil da leva securitária, afirmando uma cultura de segurança com liberdade e uma democracia sem exclusões.


SP Nº10, 2 de Setembro 2009, Publicada por Semanário PRIVADO

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