quinta-feira, maio 06, 2010

'Sérgio', o brasileiro com um sonho de paz, uma vida dedicada à Humanidade

Por causa do carisma que aliava à sua inabalável vontade política, dizia-se que ‘Sérgio’ era uma mistura entre o espião inglês James Bond e o norte-americano Bobby Kennedy. Mas, Sérgio Vieira de Mello era brasileiro: homem de sangue quente e sorriso fácil, revelou-se um dos mais notáveis diplomatas das Nações Unidas.
Quase sete anos depois da morte do diplomata, é esse o retrato que a cadeia norte-americana HBO quer evocar, quando emitir esta noite o documentário ‘Sérgio’ (trailer à esquerda), baseado na biografia ‘O homem que queria salvar o mundo’ da autoria de Samantha Power – e editada em Portugal pela Casa das Letras.

Com a capital iraquiana como cenário de fundo, o documentário revisita a missão de Sérgio Vieira de Mello em Bagdade, enquanto enviado especial do Secretário-Geral da ONU no Iraque - missão fatal para o brasileiro: foi em solo iraquiano que, a 19 de Agosto de 2003, Sérgio viria a ser assassinado pelos insurgentes, que o acusavam de servir os interesses da Administração Bush.

A uma semana do final da missão de Sérgio Vieira de Mello na capital iraquiana, um camião armadilhado explodiu junto ao edifício da ONU em Bagdade, muito próximo da janela do escritório do diplomata brasileiro. O ataque, reivindicado pela rede terrorista da Al-Qaeda, provocou dezenas de feridos e 21 mortos.

Uma das vítimas mortais seria mesmo o diplomata brasileiro: Sérgio Vieira de Melo foi ferido com gravidade, ficando aprisionado entre os escombros do edifício, depois de os seus 3 andares desabarem de uma só vez.

Um dado simbólico: depois de ter morto, Sérgio Vieira de Melo foi transportado para fora de Bagdade, num caixão coberto pela bandeira da ONU – um símbolo de uma vida inteira dedicada à organização. afinal, foi aos 21 anos, que o brasileiro começou a trabalhar para a organização, cumprindo ao todo 33 anos de serviço.

Chorado de Nova Iorque até Díli

Quando a notícia da sua morte foi difundida pela comunicação social, o mundo sofreu em silêncio: na sede da ONU, em Nova Iorque, todas as bandeiras foram retiradas - apenas a bandeira azul e branca da organização foi mantida a meia haste. O Secretário-Geral da ONU na altura, Kofi Annan, considerou a morte de Sérgio Vieira de Melo um ‘duro golpe’.

Definido pelos colegas das Nações Unidas como ‘uma estrela em ascensão’, era encarado como o mais provável sucessor de Kofi Annan – cargo para o qual viria a ser eleito o coreano Ban Ki-Moon em 2006.

A morte de Sérgio Vieira de Mello foi chorada também em Timor-Leste: afinal de contas, em 1999, foi o brasileiro quem conduziu os destinos do país durante o período de transição para a independência (à frente da Administração Transitória de Timor-Leste), abrindo caminho às primeiras eleições livres.

O maior sucesso da sua carreira diplomática? Talvez, diz ainda hoje a BBC. Também por isso, o Nobel da Paz José Ramos-Horta (hoje Presidente da República de Timor-Leste) classificou a morte de Sérgio Vieira de Mello como uma ‘tremenda perda’, que deixou o país de luto.


Uma carreira dedicada à Humanidade

De Dili, seguiu em 2002 para Genebra, onde tomou posse como Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos – um tema caro ao alto funcionário brasileiro, dado o longo currículo de trabalho humanitário nos mais desoladores cenários por todo o globo.

Ao serviço do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (hoje liderado por António Guterres), Sérgio Vieira de Mello participou também em missões em regiões com graves situações humanitárias, desde o Cambodja, aos Balcãs, passando ainda pelo Ruanda, Sudão e Moçambique (por onde passou durante o período de guerra civil que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974).


Passados quase sete anos da sua morte, Sérgio Vieira de Melo é recordado pelo seu carácter pragmático, e também pela sua coragem. Afinal de contas, em cenários de risco, Sérgio mostrava-se sempre confiante: 'Deus é brasileiro', costumava dizer.



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